O
sistema de manejo Pastoreio Racional Voisin (PRV) tem sido amplamente utilizado
na produção de leite no Sul do Brasil. Bastante polêmico e pouco estudado, duas
questões têm sido objeto de dúvida na aplicação desse sistema: a altura do
resíduo pós-pastoreio e o uso de lotes de desnate e repasse. Essas diferenças
de manejo podem causar diferentes efeitos na produção e na qualidade da pastagem,
na compactação do solo pelo pisoteio e no comportamento de pastoreio dos
animais. Este trabalho estudou esses aspectos em dois experimentos. No
experimento 1 foi testado o efeito de duas
alturas de resíduo pós-pastoreio na pastagem T1 (baixo = 3cm) e T2 (moderado =
12cm), sobre a produtividade e qualidade da pastagem e compactação do
solo, com avaliações em dezembro/2006, fevereiro, julho e setembro/2007, num
delineamento em blocos casualizados (n=6). No experimento 2 foi aplicado o
pastoreio em lotes de desnate e repasse nos tratamentos descritos do
experimento 1, num quadrado latino 4x4x4, com o objetivo de estudar o
comportamento de pastoreio e o valor nutritivo do pasto consumido. Os
tratamentos foram: T1 (resíduo baixo e desnate), T2 (resíduo baixo e repasse),
T3 (resíduo moderado e desnate) e T4 (resíduo moderado e repasse). No
experimento 1, a
maior produção de matéria seca (MS) da pastagem no T1 se expressou apenas nos
meses de julho (2702,9 vs 2489,8 ± 9,84, p<0,0006) e setembro
(1646,12 vs 1418,62 ± 50,48,
p<0,02), mas a composição botânica da pastagem e resistência do solo à
penetração não foram diferentes. No experimento 2, as vacas pastaram por mais
tempo no T1 comparado ao T2 e T4, não diferindo do T3 (196,87 vs 168,12; 155,62 e 181,87 ± 8,11 min, p<0,05). Por outro lado, verificou-se maior tempo de ócio no T2, T3 e
T4 do que no T1 (33,75; 30,00 e 38,12
vs 12,5 ± 6,78 min, p< 0,03). A taxa de
bocadas foi maior nos tratamentos T1 e T3 do que em T2 e T4 (43,87 e
42,41 vs 39,1 e 39,28 ± 0,72
min/h, p< 0,008). Em paralelo com os resultados do comportamento de
pastoreio, o valor nutritivo da pastagem foi maior nos tratamentos T1 e T3 do
que nos T2 e T4 com relação à PB (19,00 e 18,37 vs 15,28 e 14,78 ± 0.88; p<0,01) e DIVMO (70,65 e 69,86 vs 61,97 e 62,58 ± 2.06; p<
0,006). A altura do resíduo
pós-pastoreio baixo (3cm) apresentou melhores resultados comparada a uma
altura de resíduo moderada (12cm) em termos de produção de MS, sem prejuízos à
composição botânica ou à compactação do solo. O tempo de pastoreio e o valor
nutritivo da pastagem foi maior quando o estrato superior esteve disponível.
Esses resultados apóiam a hipótese de que no PRV o rebrote das plantas
pratenses se dá fundamentalmente a partir das reservas que a planta acumula, e
se faz necessário o manejo rasante, pois estimula o segmento produtivo, que é a
fotossíntese, e limita o segmento consumidor, que é a respiração do tecido verde remanescente
e que a divisão de lotes em desnate e repasse possibilita um melhor
aproveitamento da pastagem.
Flávia Luisa Meira Cordeiro. Laboratório de Etologia Aplicada - LETA. Dissertação de Mestrado do Curso de Agroecossistemas - CCA - UFSC (2008).
Texto completo: http://www.tede.ufsc.br/teses/PAGR0207-D.pdf