O grupo de pesquisa do Laboratório de Etologia Aplicada e Bem-Estar Animal (Leta), do Departamento de Zootecnia e Desenvolvimento Rural da UFSC, publicou, em parceria com pesquisadores da University of British Columbia, o primeiro estudo que mostra que a separação da vaca influencia negativamente o estado emocional do bezerro. O trabalho, publicado recentemente na revista PLOS ONE (http://www.plosone.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pone.0098429), fez parte da dissertação de Rolnei Ruã Darós, orientada pela professora Maria José Hötzel e defendida em abril deste ano no Programa de Pós-Graduação em Agroecossistemas.
Nos sistemas de produção animal, os bezerros são desmamados e separados da mãe em várias idades. Diversos estudos, inclusive o do LETA, já haviam mostrado que esse procedimento, que faz parte da rotina de criação animal, desencadeia respostas comportamentais e fisiológicas indicando estresse fisiológico e emocional nos bezerros e vacas – este estudo confirmou que aqueles apresentam uma resposta emocional negativa após perderem a mãe.
A metodologia utilizada para testar essa hipótese, inicialmente desenvolvida e validada por psicólogos para uso em humanos, é chamada de viés cognitivo. Um exemplo tipicamente apresentado para explicá-lo é o do copo com água até exatamente sua metade: indivíduos otimistas, ou em estados emocionais positivos, tendem a interpretá-lo como meio cheio; indivíduos pessimistas, ou em estados emocionais negativos, a interpretá-lo como meio vazio.
Neste experimento, bezerros leiteiros de poucos dias de idade foram treinados a acionar uma tela de computador com o focinho; depois, eles aprenderam a associar a tela de cor branca à chegada de leite, que podiam beber dirigindo-se à mamadeira. Quando a tela vermelha aparecia, o bezerro precisava ficar parado, pois, se procurasse o leite, era punido por um minuto com a proibição de acionar a tela. Após considerados treinados, algumas vezes a tela aparecia em cor-de-rosa, ou seja, a informação era ambígua. Antes da separação da mãe, os bezerros respondiam às telas rosa como positivas em 72% das vezes. No dia seguinte após a retirada da mãe do seu ambiente de criação, essa frequência diminuiu, isto é, os bezerros passaram a interpretar a cor ambígua da tela como a cor que eles tinham associado a um evento negativo – essa resposta pessimista persistiu por mais de 48 horas. Além disso, o mesmo resultado foi obtido ao testar esses bezerros com o mesmo procedimento antes e um dia após serem submetidos à cauterização do botão cornual com um ferro quente – prática utilizada para evitar o crescimento dos chifres, que causa intensa dor e desconforto por mais de 48 horas. Este trabalho é o primeiro a mostrar que as dores física e da separação induzem bezerros a estados emocionais negativos.
Estudos como este, que ajudam a reconhecer estados emocionais em animais, reforçam a obrigação que os seres humanos têm de prevenir o sofrimento dos animais utilizados para o seu benefício.
Confira o artigo publicado: Daros et al 2014
Mais informações: http://letaufsc.wix.com/letaufsc#!home/c1jit
Claudio Borrelli / Revisor de Textos da Agecom / Diretoria-Geral de Comunicação/ UFSC