por Angela Escosteguy
Boas notícias! Ocorreu há poucos dias a 26ª Biofach – a maior e mais importante feira mundial de orgânicos, em Nuremberg, Alemanha. Já na viagem de ida, algumas pistas do crescimento do setor: lanche orgânico no avião da Gol, revista de bordo da KLM com reportagem sobre o avanço dos alimentos orgânicos em Roma e lanches orgânicos no aeroporto de Amsterdam.
A feira de 80.000 m² teve este ano 48.000 visitantes, 10% a mais que no ano passado, provenientes de 132 países e cerca de 2.500 expositores. A Vivaness, feira de cosméticos naturais e orgânicos, que ocorre junto, também cresceu, acompanhando o mercado que este ano movimentou mais de um bilhão de dólares só na Alemanha.
O Brasil estava bem apresentado com dois grandes estandes, um da Apex Brasil e o Programa Organics Brasil e outro com produtos da agricultura familiar, coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário com o apoio do Ministério das Relações Exteriores e da Embaixada do Brasil em Berlim. Diversas Cooperativas do RS participaram levando arroz, suco de uva, geleias, erva mate, conservas, óleos essenciais e polpas de frutas.
Conforme Exame.com, “esta foi uma das melhores feiras dos últimos anos em negócios para as empresas. Em três dias nove empresas expositoras conseguiram fechar negócios para exportação nos próximos 12 meses e realizaram mais de uma centena de novos contatos cada. Açúcar, erva mate e mel, tiveram grande interesse das distribuidoras europeias. Os cosméticos da Surya Brasil tiveram expressivo interesse das tradicionais marcas e abriu mercados de spas e distribuidoras do leste europeu e países asiáticos”. O Projeto Organics Brasil calculou que neste feira, o Brasil faturou 2 bilhões 650 mil reais, 32,5% superior a 2014. Para os Estados Unidos, maior mercado mundial de orgânicos, os principais produtos exportados foram de matérias-primas semi-processadas, como: açúcar, óleos de dendê e outros óleos vegetais, castanha de caju, sucos de frutas (açaí), mel, erva-mate, outras frutas tropicais congeladas, café, preparações capilares, própolis e cachaça.
Mas a Biofach não é só negócios e contatos. Também ocorreram seminários, palestras, mesas redondas, reflexões e discussões relacionados não somente com produção e comercialização mas também sobre estratégias para o desenvolvimento do setor e rumos do movimento orgânico mundial. A IFOAM – Federação Internacional de movimentos de Agricultura Orgânica, entidade que organiza o Congresso Mundial de Agricultura Orgânica a cada três anos, lançou na feira o Programa ORGANICS 3.0 – a terceira fase do movimento orgânico mundial, uma proposta para responder os inúmeros desafios e oportunidades do mundo atual. O documento encontra-se em consulta até final de fevereiro.
Por sua vez, o FiBL – Instituto Suíço de Pesquisas em Agricultura Orgânica apresentou seu tradicional Relatório anual das estatísticas do setor sobre produção e mercado. Os dados publicados agora foram coletados em 2014, em 172 países de todos os continentes. Conforme a publicação a área com agricultura orgânica em 15 anos cresceu mais de 300%. Atualmente a área é de 47 milhões de hectares (dados 2014). A Austrália, com mais de 17 milhões, e Argentina com outros 3 milhões, são os dois países líderes em área certificada com grande participação na pecuária extensiva. O Brasil está no 12º lugar. Quanto ao mercado, estima-se que o valor global atingiu 60 bilhões de Euros. Os EUA tem o maior mercado com 27.1 bilhões de Euros, seguidos pela Alemanha, França e China.
Os alimentos de origem animal mostraram pujança e qualidade. É uma área que vem aumentado consideravelmente. Carne, leite, ovos, mel e derivados. In natura e processados. Provenientes de diversas espécies: bovinos, ovinos, caprinos, suínos, equinos, galinhas, frangos, perus, patos e marrecos, além de peixes e pescados. Consumidores conscientes exigem qualidade dos alimentos, bem estar animal e sustentabilidade. Apesar das críticas generalizadas aos animais, estudos científicos recentes comprovam que animais criados em sistemas extensivos são benéficos ao ambiente não somente pelo aporte de nutrientes ao solo como também pela captura de carbono na fotossíntese das pastagens. Pesquisas também têm comprovado que carne e leite orgânicos são mais nutritivos que os convencionais e muito importantes principalmente para o desenvolvimento físico e mental das crianças.
Este ano observou-se na feira uma presença considerável de alimentos processados e também de embalagens recicláveis mostrando a industrialização dos alimentos orgânicos. Aumentando assim a diversidade, a disponibilidade, a conservação e a especialização. As embalagens e apresentação costumam ter mais elegância que a dos concorrentes convencionais. Ao lado dos tradicionais e valorizados alimentos artesanais, surgem os processados e produzidos em grande escala. Sucos, cervejas, vinhos, espumantes, sorvetes, geleias, sopas, papinhas, bolachas, chips, vegetais semi-procesados, chás, suplementos, dentre outros. Sem falar linha dos produtos não comestíveis como roupas, embalagens e cosméticos, estes últimos com enorme avanço na Alemanha.
Voltamos para casa felizes e otimistas. Afinal todos merecemos um prato e um planeta mais saudável!
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Angela Escosteguy é médica veterinária, Presidente do Instituto do Bem Estar (IBEM) e da Comissão de Pecuária Orgânica da Sociedade Brasileira de Medicina Veterinária.