quinta-feira, 5 de julho de 2012

Efeito da hierarquia social na produção, na reprodução e da interação humano animal de vacas leiteiras.


Os bovinos são animais sociais, que entre eles estabelecem uma ordem de dominância. O conjunto das relações de dominância forma uma hierarquia interna. Nos sistemas criatórios também existe uma hierarquia entre os animais, talvez a variável comportamental mais importante na criação, interferindo na alimentação, reprodução, produtividade e bem-estar dos animais. Nesta dissertação, aspectos relacionados ao comportamento social de vacas leiteiras e a relação humano-animal são estudados. Duas hipóteses foram testadas: a) nos bovinos, por serem sociais, poligâmicos, e formadores de harém, as vacas dominantes deveriam ter mais filhos machos enquanto que as subordinadas deveriam ter mais filhas fêmeas (hipótese de Trivers e Willard); b) apesar de todas as vacas distinguirem um tratador aversivo de um neutro, as vacas dominantes teriam uma resposta diferente das subordinadas, apresentando uma maior aversão aos humanos, implicando em menor produção leiteira e prejuízo ao bem-estar. Para testar estas hipóteses foram realizados 2 experimentos. No primeiro, em relação à posição social da vaca e o sexo de sua cria, foi determinada a hierarquia social existente de 4 rebanhos. Após, as vacas foram agrupadas em dominantes, intermediárias e subordinadas. O sexo de suas crias foi anotado e através do teste do Chi-quadrado, encontramos que as vacas dominantes apresentaram um número significativamente maior (p =0,014) de filhos machos do que as subordinadas, que apresentaram um número maior de filhas fêmeas. O segundo experimento, para testar a hipótese de que vacas dominantes teriam mais aversão aos humanos do que as subordinadas, foi realizado em um rebanho de 11 vacas. Durante este experimento o tratador aversivo dava um tapa na garupa e um grito, diariamente, em cada vaca. Foram efetuados testes de distância de fuga a um tratador neutro e a um aversivo, antes, durante e ao final do experimento. Também foi realizada a medição do leite residual na presença e na ausência do tratador aversivo. A distância de fuga das vacas dominantes ao tratador aversivo, ao final do experimento, foi significativamente maior (p<0,05) do que das vacas subordinadas. Além disso, as vacas dominantes apresentaram, em média, mais leite residual do que as subordinadas, independentemente do tratador aversivo estar presente ou não. Estes resultados demonstram que vacas dominantes sentem mais medo de humanos do que as vacas subordinadas. A confirmação de nossas hipóteses nos leva a afirmar que as estratégias comportamentais que evoluíram no ambiente natural ao longo de muitas gerações continuam a se manifestar na criação animal, mesmo após anos de intensa seleção artificial, afetando direta ou indiretamente a produção. O conhecimento destes comportamentos é de extrema importância para a elaboração de sistemas de manejo que promovam o bem-estar, a produtividade e a sustentabilidade dos sistemas criatórios.

Maria Cristina YUNES.  Laboratório de Etologia Aplicada - LETA, Tese de mestrado em Agroecossistemas - CCA/UFSC (2001)

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