O
presente trabalho tem como objetivo o estudo dos comportamentos sócio-positivos
afiliativos, em especial lambidas, em vacas leiteiras criadas em Pastoreio Racional
Voisin. A quantidade, distribuição temporal, influência da
hierarquia social e da prenhez, e sincronismo das lambidas com outros
comportamentos foram aspectos investigados. Para tanto, utilizaram-se seis
rebanhos com média de 24,66±4,8 vacas da raça Jersey. Os animais foram
observados por seis dias em períodos de sete horas, entre as ordenhas da manhã
e da tarde, a partir do momento que entravam em um novo piquete. A cada seis
minutos eram registrados os comportamentos de todos os animais como
instantâneos. As lambidas e as interações agonísticas foram anotadas como
eventos, toda vez que ocorriam. Foram elaboradas matrizes sociométricas para
cada rebanho e dados individuais de estado gestacional, escore corporal, ordem
de lactação e escore clínico foram prospectados para cada animal. A porcentagem
de vacas que executaram e receberam lambidas foi próxima de 100%, sem diferença
entre rebanhos (p_0,05). No período observado, em média cinco vacas foram
lambidas por cada executora, e o mesmo número de vacas lamberam cada receptora.
O número de lambidas executadas e recebidas por vaca nas 42 horas observadas
diferiu entre os rebanhos (p<0,05) e foi próximo de 7,5. Os eventos de
lambidas concentraram-se no horário entre 9:00 h e 11:00 h (p<0,05),
coincidindo com os horários de maior freqüência de pastoreio (p<0,05). Não
houve correlação entre executar lambidas e receber lambidas (p>0,05), exceto
em uma propriedade. Também não houve correlação (p>0,05) entre executar
lambidas e instigar interações agonísticas ou entre executar lambidas e ser
vítima de interações agonísticas. Da mesma forma, não houve correlação entre
receber lambidas e instigar interações agonísticas ou entre receber lambidas e
ser vítima de interações agonísticas. Vacas subordinadas executam e recebem
menos lambidas que as intermediárias e dominantes (p<0,05). Vacas prenhes
executam e recebem mais lambidas que as vazias (p<0,05). Houve uma alta
correlação, positiva e significativa (p<0,001), entre o número de interações
agonísticas da vaca dominante e de seu respectivo rebanho. As lambidas são
interações táteis de ocorrência generalizada em bovinos, que foram conservadas
evolutivamente pelas associações entre os animais. São comportamentos inatos
cuja causa parece estar relacionada à liberação intracerebral de opióides
endógenos e cuja função pode estar relacionada à coesão social. Vacas lambem
mais durante ciclos de pastoreio, que são momentos de vulnerabilidade
predatória. Quanto maior o rebanho, menor o número de lambidas, correlação
condizente com a maior probabilidade de predação em grupos menores. O
comportamento de lambida não tem relação clara com a hierarquia social e não
parece funcionar como instrumento de redução de conflitos. Vacas dominantes
agressivas podem predizer rebanhos agressivos.
Thiago Mombach Pinheiro Machado, Laboratório de Etologia Aplicada - LETA, dissertação do mestrado de Agroecossistemas do CCA - UFSC (2009)
texto completo: http://www.tede.ufsc.br/teses/PAGR0228-D.pdf