Água
e sombra são recursos essenciais para animais criados no pasto, tendo reflexos
no seu despenho e bem-estar. Em decorrência dos vários fatores que determinam a
necessidade de água de um bovino, a ingestão voluntária pelo animal em
condições de livre acesso é a melhor medida para o suprimento adequado. Porém,
vários aspectos extrínsecos afetam a ingestão voluntária de água dos animais,
podendo ocasionar estresse hídrico com conseqüências negativas para a saúde,
desempenho e bem-estar. Neste trabalho, estudamos, em dois experimentos, alguns
dos fatores que influenciam o comportamento de bebida dos bovinos em pastoreio,
com intuito de otimizar o fornecimento de água, melhorando a ingestão
voluntária de água dos bovinos. No experimento 1, avaliamos o efeito do tipo do
bebedouro no comportamento de bebida de novilhas de corte. No teste 1, quando
tinham disponível ambos os bebedouros (A: Bebedouro retangular de concreto ou
B: Bebedouro redondo de PVC), os animais apresentaram maior número de eventos
de bebida (P<0,0001), tempo bebendo (P<0,0001) e ingestão de água
(P<0,009) no bebedouro B. No teste 2 deste experimento, os animais foram
expostos a um tipo de bebedouro de cada vez, num desenho tipo “cross-over”, em
grupos de dois. Todos os grupos beberam mais vezes (P<0,0003), por mais tempo
(P<0,02) e em maior quantidade (P<0,01) no bebedouro B do que no A.
Portanto, o tipo de bebedouro influencia o comportamento de bebida e o consumo
de água dos bovinos, mesmo quando eles dispõem de apenas uma opção de
bebedouro. No experimento 2, testamos se a localização do bebedouro (piquete ou
corredor) e a presença da sombra no piquete influenciavam o comportamento de
bebida dos bovinos em Pastoreio Racional Voisin - PRV. A sombra dentro
do piquete não influenciou o comportamento de bebida das vacas, porém a posição
do bebedouro modificou significativamente este comportamento. Nos tratamentos
em que o bebedouro estava localizado dentro do piquete, foi verificado um maior
número de eventos de bebida (P<0,001), maior tempo bebendo (P<0,01) e apresentaram
maior consumo de água (P<0,02) do que quando o bebedouro estava no corredor,
distante 150 metros
do potreiro de pastoreio. Ainda, quando o bebedouro estava no corredor, o
efeito da dominância social afetou o comportamento de bebida dos animais, sendo
que os dominantes beberam mais freqüentemente (P<0,02) e por mais tempo
(P<0,02) que os animais subordinados. Conseqüentemente, a melhor localização
do bebedouro em PRV foi dentro do piquete de pastoreio, pois proporciona aos
animais maior ingestão de água, maior número de eventos de bebida e maior tempo
bebendo, inclusive superando os efeitos da dominância social. Os bovinos são
sensíveis ao tipo de bebedouro e sua localização, o que pode ter impacto direto
no bem-estar e na produtividade dos animais.
Paula Araújo Dias Coimbra. Laboratório de Etologia Aplicada - LETA, Dissertação do curso de mestrado em Agroecossistemas - CCA - UFSC.
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