terça-feira, 24 de maio de 2011

Pecuaristas adotam práticas que evitam sofrimento dos animais

Fazenda em SP faz o desmame progressivo para não traumatizar bezerros. Estudos e pesquisas ajudaram a construir o chamado 'curral ideal'.
A preocupação com o bem-estar animal não algo novo. A primeira lei sobre o tema surgiu em 1822, na Grã-Bretanha. No Brasil é da década de 1930, mas na prática, só agora os produtores começam a adotar pra valer técnicas que evitam o sofrimento de porcos, galinhas, bois, vacas.
Numa fazenda em Taiaçu, cerca de 400 quilômetros de São Paulo, quando a porteira do curral se abre, os bezerros entram em disparada. Quem não consegue encontrar o caminho, recebe a ajuda de uma das trabalhadoras da fazenda. Priscila Aparecida e Jucilene da Silva, tratadoras de bezerros, conhecem os mimos de cada animal e explicam que alguns bezerros gostam que elas passem a escova enquanto se alimentam, outros não.
Escovar os animais na hora da mamada tem um sentido. A veterinária Lívia Magalhães, responsável pelas mudanças no manejo da fazenda, explica o motivo. “Estudos anteriores, com leitões e camundongos, mostraram que esses filhotes, quando foram escovados, tiveram um desenvolvimento cerebral melhor e consequentemente uma melhor resposta no desenvolvimento, inclusive na resposta imunológica”, declara a veterinária.
São detalhes como esses que alteraram o dia a dia da fazenda. O papel de Lívia é melhorar o desempenho na produção de leite, mas observando o comportamento das vacas, percebeu que as modificações precisavam ir muito além da sala de ordenha.
“Quando a gente entrava no barracão, percebíamos um forte odor de diarréia, bezerros fracos, com as orelhas caídas, o vigor deles muito baixo. Então em setembro de 2005 a gente tentou fazer pequenas mudanças”, conta.
Uma delas fois na dieta dos bezerros, que hoje passam por uma desmama progressiva. No manejo convencional, de uma hora para outra, os filhotes param de mamar diretamente nas vacas, para não atrapalhar a produção de leite da fazenda. Mas começar a receber ração drasticamente gera um trauma nos animais.
"A desmama progressiva significa dar maior quantidade de leite para o bezerro e depois esta quantidade vai diminuindo. Chega certo momento que o bezerro vai receber só um litro de leite por dia. Então ele já vai estar mais acostumado a receber a ração e perder um litro de leite pra ele é mais fácil do que perder quatro litros, por exemplo”, explica a veterinária.
Em outra fase, os bezerros são amamentados com leite em pó e baldes simulam o úbere das vacas. De barriga cheia, os bezerros são levados para um piquete que é chamado de área de lazer, onde eles podem correr, brincar e tomar banho de sol.
Os bovinos são animais que gostam de ficar em grupo e com bastante espaço se evita um dos maiores problemas da criação coletiva de bezerros: assim que acabam de mamar, eles ainda sentem vontade de sugar.
Confinados, acabam fazendo isso no umbigo, na orelha, ou mesmo no teto do outro, o que pode provocar doenças, como mastite na futura novilha. Como eles estão no processo de desmama progressiva, fica à disposição dos animais um cocho com ração. A água só é fornecida duas horas depois da mamada para não prejudicar o processo digestivo, mas os bezerrinhos que quiserem sossego, podem entrar no galpão e passar o dia dormindo ali.
Outra mudança foi no chão do galpão, que antes era coberto com serragem e por isso havia muita poeira. Os veterinários observaram vários casos de doenças respiratórias nos bezerros. Hoje ele é forrado com cinco centímetros de capim seco. As fezes são retiradas todo dia, mas o capim só é trocado totalmente duas vezes por semana.
Uma cortina serve para proteger os animais do frio e da chuva, no calor ela é suspensa. “Os bezerros mais novos, até os 30 dias, permanecem nesse local, não se misturando com os bezerros, mais velhos para evitar o contágio de doenças e também porque a resistência deles é menor que a dos outros animais”, diz a veterinária.
As novilhas ficam no pasto. Das 600 vacas, 250 estão em lactação. A ordenha é feita com muita calma. Não tem gritaria, nem empurra-empurra. Mas nem sempre foi assim.
Ana Claudia da Silva Mascarenhas, explica que antes as novilhas eram mais ariscas, e que depois que receberam treinamento, os funcionários passaram a lidar melhor com as vacas. “A gente não pode estar estressado, nem ficar gritando, que faz com que os animais fiquem mais nervosos”, comenta Ana Cláudia Mascarenhas, trabalhadora rural.
Cinco anos depois, de acordo com o levantamento dos pesquisadores, a mortalidade na Fazenda Germânia caiu de seis bezerros por mês para dois por mês. E o gasto com antibióticos foi reduzido pela metade.
Além das práticas de bem-estar, a fazenda melhorou as instalações, a genética e o manejo alimentar do rebanho. O dono da fazenda Maurício Vital, pecuarista há mais de vinte anos, faz um balanço do projeto. “A nossa produção de leite tem aumentado. Nós saímos de três mil e quinhentos litros dia pra chegar a quatro mil e quinhentos, cinco mil litros dia nesse sistema”, avalia.
Para Maurício, essas conquistas da fazenda não se medem apenas em números. “Ninguém gosta de ser tratado mal. Todo mundo gosta de ser tratado bem e isso acontece também com os animais. A partir do momento que você começa a ter uma interação com eles, a tratá-los melhor, a não obrigá-los a fazer alguma coisa, mas convencê-los a fazer, isso se transforma em benefício pra gente porque eles fazem, mas não é preciso machucá-los".

Fonte: G1

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