INTRODUÇÃO
A Etologia é o estudo científico do comportamento animal, tanto individual como coletivo em seu ambiente natural ou habitual, e como este se relaciona com seu entorno animado e inanimado. A Etologia veterinária estuda as espécies domesticadas como meio de assegurar sua saúde e função, tratando-se neste caso, de uma ciência aplicada.
A conduta dos animais adultos é uma mescla dos componentes herdados ou inatos, que são os constituídos de reflexos simples, as respostas compostas e padrões de conduta complexos, e dos adquiridos que são os reflexos condicionados, as respostas aprendidas e os hábitos gerais. Estes podem se misturar e proporcionar uma ampla gama de condutas. As manifestações do comportamento podem ser chamadas de “linguagem corporal”.
Os pioneiros da Etologia foram Lorens, Von Frisch e Tinbergen. A ciência do comportamento animal se divide em duas escolas. A Européia, que chamam a si mesmo de Etólogos e se concentram no comportamento instintivo, observando os animais na natureza e a Americana, psicologista, que está mais interessada no comportamento sob condições de laboratório controlado. Mas ambas reconhecem Lorenz como “o pai da moderna Etologia”. Lorenz dizia que o comportamento animal, tal qual sua adaptação física, faz parte de seu sistema de sobrevivência.
A etologia reconhece a existência do comportamento motivado dos animais, tal comportamento implica na existência de emoções, tais como: dor, fome, medo e raiva. Já que estes têm dispositivos anatômicos e fisiológicos similares aos do homem, em alguns casos até mais agudos.
O Conceito contemporâneo sobre dor e estresse pode ser descrito em três aspectos simples: 1) O estado de desconforto está na relação com qualquer interferência adversa com o estado normal de saúde ou bem-estar do animal. 2) O estresse é um processo físico, com manifestações extensas que revelam uma tensão ou ansiedade relacionadas com fatores ambientais. 3) A dor é reconhecida por sintomas comportamentais como disputas, gritos, gemidos ou convulsões.
A NATUREZA DO COMPORTAMENTO.
O comportamento animal é o resultado de complexas relações que se estabelecem entre este e o meio. O entendimento dos mecanismos fisiológicos é importante para compreensão Etológica. Deve-se se dar atenção especial para os órgãos sensoriais e aos mecanismos neurais e endócrinos.
Sistema Nervoso – Os órgãos sensoriais recebem os estímulos e transformam estes em respostas dos animais na forma de excitação, este mecanismo é feito pela condução de sinais elétricos até o SNC e o retorno na forma reflexa. As sinapsis fazem a conexão entre as células nervosas e podem regular a intensidade destes impulsos e a rota dos mesmos.
Cortex Cerebral – Atua como uma unidade onde recebe e reorienta os impulsos nervosos. Possui uma multiplicidade de células e rotas neurais que permitem uma grande variabilidade na forma que podem canalizar os impulsos nervosos.
Hipotálamo – onde se integram e regulam os padrões de atividade nervosa para estabelecer as relações adaptativas dos animais. Regula o funcionamento da Hipófise (produção hormonal).
Sistema Endócrino – juntamente com o sistema nervoso é imprescindível na regulação da fisiologia do animal, buscando equilibrar os fatores do comportamento, meio e estado interno. A Hipófise está intimamente ligada ao hipotálamo pelo sistema porta e a glândula responsável por regular (através do LH e do FSH) a produção dos hormônios pelas glândulas endócrinas. Produz também a ocitocina que atua no útero e na estimulação à lactação. As Tireóides produzem a tiroxina, relacionada na maioria das atividades orgânicas relacionadas à produção de energia. As Adrenais são glândulas que produzem substâncias esteróides. Nos machos chamados de andrógenos que apóiam a produção da testosterona pelos testículos. De grande importância na reprodução já que distúrbios no seu funcionamento causam alterações no comportamento sexual. Produz também a adrenalina responsável por variações de comportamento: padrões de ameaça, fuga e suas combinações. As descargas deste hormônio conduzem ao comportamento agonistico como: agressão entre os machos, a proteção maternal e secreção láctea (interrupção). Os Testículos produzem a testosterona responsável pela maioria dos comportamentos típicos dos machos. Os Ovários produzem o estrógeno é responsável pelos sinais do cio e a progesterona que além de regular o ciclo estral é responsável pela manutenção da gestação. A pineal produz a melatonina que controla o comportamento reprodutivo através do estimulo luminosos e as endorfinas são hormônios cerebrais com características opiáceas com capacidade de eliminar a dor, controlar a emoção, incrementando a concentração.
Pode-se deduzir a motivação em função do comportamento. A motivação resulta de um conjunto múltiplo circunstâncias que são os fatores estimulantes. A Etologia considera que algumas motivações têm origem hereditária e são denominadas de impulso. Dentre elas temos as sexuais, maternas, alimentares, que são mais claramente identificadas, e as lúdicas, exploratórias e auto-conservação, que são identificadas menos claramente.
A motivação para o animal tem o caráter de conseguir um objetivo, sendo este, principalmente a manutenção, ou seja, ter as necessidades corporais satisfeitas, como: ingestão, cuidados corporais e reprodutivas.
A Emocionalidade trata-se de um fenômeno complexo relacionado à motivação, coordenado pelo sistema límbico, cuja atividade tem como resultado a ampla variedade de respostas autônomas e os movimentos que constituem o comportamento. São três sistemas neurais: a aproximação de forma exploratória, interrupção do comportamento que está sendo manifestado e comportamento agressivo
O Impulso se define por “estímulos de manutenção” e é controlado pelo hipotálamo e estão intimamente ligados as circunstâncias de manejo e ambientais, sofrendo influência das diferenças entre indivíduos e das relações sociais, já que às vezes a ação do grupo se sobrepõe às individuais nos impulsos para a alimentação, a locomoção, o cuidado corporal, o territorialismo e o descanso.
A organização das reações segue uma hierarquia que parte destes as respostas reflexas mais simples (comportamento medular) até as respostas mais complexas (comportamento cortical). As reações mais simples não são perdidas quando se adquire por aprendizado aquelas reações mais complexas, apenas passam a ser controladas por estas. As reações mais complexas estão ligadas ao desenvolvimento evolutivo das espécies, a idade do animal, seu desenvolvimento, relação com meio (estímulos externos), etc.
Os órgãos do sentido recebem os estímulos do meio, portanto tem muita importância, já que o animal vai produzir seu comportamento a partir desta interação que realiza com o ambiente. Pode-se citar a visão que pode dar ao animal noção de espaço, cor, profundidade, reconhecimento de seus pares, entre outros. O olfato e a produção de feromônios (secreções odoríferas) relacionados à alimentação e reprodução (reconhecimento da fêmea em cio pelo macho, hierarquização, etc.)
Através do aprendizado os animais adquirem as características do comportamento adquirido e que vai determinar o nível de adaptação do animal ao ambiente, ou seja, condiciona o comportamento inato dos animais. Os animais jovens são mais suscetíveis ao aprendizado que os adultos, portanto se não forem dados os estímulos para o desenvolvimento desde ao nascimento (alguns autores consideram desde a vida intra-uterina) a adaptação, sobrevivência e produção estarão comprometidas.
A aprendizagem se desenvolve através de vários sistemas sendo os mais importantes: O condicionamento clássico, como por exemplo, o comportamento de reunião das vacas ou dos suínos com o barulho da distribuição dos alimentos e o condicionamento operante, que seria o de tentativa e erro.
O clima influencia o comportamento dos animais em vários aspectos, já que estes precisam se adaptar as mudanças climáticas, de modo que afete o menos possível a sua fisiologia. Em termos de termoregulação, os animais realizam mudanças no comportamento, no sentido de procurar a sombra em dias quentes, o sol em dias frios, a proteção contra os ventos, etc. A ingestão de água e alimentos também são bastante influenciadas pelas mudanças climáticas e isto interfere de maneira significativa na produção. A reprodução também é afetada porque algumas espécies de animais possuem estação reprodutiva determinada pelo fotoperíodo, o calor excessivo pode diminuir os sinais de cio e a libido dos touros.
A densidade social influencia o comportamento tanto pelo isolamento, quanto pela superpopulação. Nas interações entre os indivíduos, a hierarquização é modificada e adaptada ao espaço disponível, ao tamanho dos lotes, etc.
Com a sujeição, que seria o uso da força e de instalações adequadas, pode-se conduzir o comportamento animal com o objetivo de facilitar o manejo.
O COMPORTAMENTO DO DESENVOLVIMENTO.
As características do comportamento surgem e mudam durante o desenvolvimento do animal. A atenção as necessidades etológicas específicas podem contribuir para a diminuição da mortalidade, assim como para o bom desenvolvimento dos animais de produção. Desde a idade fetal o animal já mostra movimentos que podem ser observados, principalmente no terço final da gestação. A realização deste comportamento de forma normal é importante para que o feto chegue ao parto em boas condições. Isto auxilia na hora do parto e nas primeiras horas de nascido.
No pós-parto tanto o recém nascido como a mãe tem comportamento específicos e inatos que propiciam o mutuo reconhecimento. No caso de recém nascido, este passa por etapas essenciais que são: o decúbito coordenado, a elevação, a ambulação, a exploração ambiental, a procura do úbere e por fim a ingestão do leite.
As brincadeiras (jogos) infantis são importantes para o desenvolvimento e organização social precoce, porém as brincadeiras individuais ajudam no desenvolvimento muscular.
Existem variações entre as espécies, mas estas se dão mais em termos da duração dos processos. O desenvolvimento do neonato, assim como a sua relação com a mãe e o ambiente são bastante similares e misturam fatores inatos e de aprendizado.
O COMPORTAMENTO DE MANUTENÇÃO.
A manutenção é a base para que a produtividade animal tenha êxito, sendo esta, responsável por grande parte do comportamento animal.
A reatividade seria o comportamento na sua forma reflexa e exigem uma sintonia entre o sistema nervoso central e o sistema periférico. O principal resultado deste sistema é a agressão e as vocalizações.
A ingestão de alimento, assim como a sua seleção, se relaciona diretamente como o comportamento do animal, ou seja: a forma de apreensão do alimento, número de bocados, tempo de pastoreio, tempo de ruminação, relação social (hierarquia), apetite, tipo de exploração (confinada ou não), dentre outros fatores. O animal precisa expressar seu comportamento de ingestão inato de forma adequada e se adaptar, via aprendizado, aos desafios impostos pelo ambiente do sistema de criação de forma que possa se satisfazer em quantidade e qualidade.
Os animais demonstram forte impulso na investigação do conteúdo ao seu entorno, este impulso vai desaparecendo na medida em que o ambiente vai se tornado familiar, mas a cada fato novo a curiosidade é despertada novamente. A necessidade de percepção sensorial e determinação crítica ativa o impulso exploratório com a finalidade de resolver um problema concreto.
Os animais já nascem com padrões cinéticos pré-determinados e possuem ritmos e fases. Estes padrões cumprem demandas locomotoras substanciais que são importantes para o animal, principalmente para os que se alimentam em pastoreio. Mas também estão relacionadas a outras atividades físicas, como respiração, lúdicas, reprodução e relação social.
Os animais estabelecem relações, mantidas pelo comportamento, estas relações são de hierarquia social, relação, relação com o homem, etc. Estas relações comportamentais se formam basicamente através do espaço individual e a relação que este tem com seus companheiros de grupo, ou seja, com o comportamento territorial.
O cuidado corporal também demanda tempo dos animais e é importante para reforçar as relações sociais e ajudar higiene cutânea. O repouso e sono são importantes para a manutenção, pois o animal pode utilizar a energia de forma mais eficiente.
PADRÕES DE COMPORTAMENTO DAS ESPÉCIES
O comportamento das espécies, principalmente o inato, segue em geral os mesmo padrões, variando devido às características morfológicas e fisiológicas específicas de cada uma delas. Os padrões evolutivos e a “inteligência” dos animais podem influenciar no comportamento aprendido.
COMPORTAMENTO REPRODUTIVO
O comportamento do macho, mais conhecido como a libido, na maioria das espécies é estável durante toda sua vida reprodutiva, já que as taxas hormonais são constantes, a exceção das espécies que tem a estação reprodutiva estacional (normalmente determinada pelo fotoperíodo). A libido está relacionada à hereditariedade, sendo muito importante se levar em consideração este fator na seleção de reprodutores. A fêmea já tem o comportamento muito variável e dependente dos ciclos hormonais e só aceitam a cópula na fase estral do ciclo (com exceção das aves). O parto tem várias fases de mudança de comportamento e se divide em pré-parto, parto e pós-parto. Nestas fases passa por comportamentos de isolamento, diminuição do apetite, inquietação, se deitar e se levantar, contrações e por último a comportamento maternal que representa o reconhecimento da cria e o auxilio nos seus primeiros momentos de vida.
ANORMALIDADES DO COMPORTAMENTO.
O stress é uma resposta fisiológica e comportamental do animal a fatores do Ambiente. Normalmente o animal tenta se adaptar as condições adversas, mas quando o estimulo, ou é de grande intensidade, ou de duração prolongada, pode causar alterações nos animais. Estas alterações podem ser patológicas quando se mostram clinicamente, na mudança da fisiologia do animal, ou podem ser comportamentais, vistas na forma de comportamentos anômalos, que seriam: depravação de apetite, canibalismo, polidipsia, aerofagia, vícios de mamada em outros animais, lambeduras excessivas, mordidas, balanceio, coprofagia, só para citar algumas. O certo é que a clínica veterinária, em busca de diagnósticos das perturbações animais, pode se utilizar dos benefícios proporcionados pelo estudo do comportamento animal, fazendo uma relação entre este a as alterações clinicas observadas. E os criadores usarem estes conhecimentos na busca pela produtividade, sem que, com isto prejudiquem o bem-estar dos animais.
Referência: Comportamiento de los Animales de Granja (Fraser,A.F.1980).
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