Os
bovinos são animais sociais, que entre eles estabelecem uma ordem de
dominância. O conjunto das relações de dominância forma uma hierarquia interna.
Nos sistemas criatórios também existe uma hierarquia entre os animais, talvez a
variável comportamental mais importante na criação, interferindo na
alimentação, reprodução, produtividade e bem-estar dos animais. Nesta
dissertação, aspectos relacionados ao comportamento social de vacas leiteiras e
a relação humano-animal são estudados. Duas hipóteses foram testadas: a) nos
bovinos, por serem sociais, poligâmicos, e formadores de harém, as vacas
dominantes deveriam ter mais filhos machos enquanto que as subordinadas deveriam
ter mais filhas fêmeas (hipótese de Trivers e Willard); b) apesar de todas as
vacas distinguirem um tratador aversivo de um neutro, as vacas dominantes
teriam uma resposta diferente das subordinadas, apresentando uma maior aversão
aos humanos, implicando em menor produção leiteira e prejuízo ao bem-estar.
Para testar estas hipóteses foram realizados 2 experimentos. No primeiro, em
relação à posição social da vaca e o sexo de sua cria, foi determinada a
hierarquia social existente de 4 rebanhos. Após, as vacas foram agrupadas em
dominantes, intermediárias e subordinadas. O sexo de suas crias foi anotado e
através do teste do Chi-quadrado, encontramos que as vacas dominantes
apresentaram um número significativamente maior (p =0,014) de filhos machos do
que as subordinadas, que apresentaram um número maior de filhas fêmeas. O
segundo experimento, para testar a hipótese de que vacas dominantes teriam mais
aversão aos humanos do que as subordinadas, foi realizado em um rebanho de 11
vacas. Durante este experimento o tratador aversivo dava um tapa na garupa e um
grito, diariamente, em cada vaca. Foram efetuados testes de distância de fuga a
um tratador neutro e a um aversivo, antes, durante e ao final do experimento.
Também foi realizada a medição do leite residual na presença e na ausência do
tratador aversivo. A distância de fuga das vacas dominantes ao tratador
aversivo, ao final do experimento, foi significativamente maior (p<0,05) do
que das vacas subordinadas. Além disso, as vacas dominantes apresentaram, em
média, mais leite residual do que as subordinadas, independentemente do
tratador aversivo estar presente ou não. Estes resultados demonstram que vacas
dominantes sentem mais medo de humanos do que as vacas subordinadas. A
confirmação de nossas hipóteses nos leva a afirmar que as estratégias
comportamentais que evoluíram no ambiente natural ao longo de muitas gerações
continuam a se manifestar na criação animal, mesmo após anos de intensa seleção
artificial, afetando direta ou indiretamente a produção. O conhecimento destes
comportamentos é de extrema importância para a elaboração de sistemas de manejo
que promovam o bem-estar, a produtividade e a sustentabilidade dos sistemas
criatórios.
Maria Cristina YUNES. Laboratório de Etologia Aplicada - LETA, Tese de mestrado em Agroecossistemas - CCA/UFSC (2001)
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